As expectativas eram moderadamente elevadas. Na quinta-feira tinha mandado uma mensagem perguntando "que tal uma ida à Gardunha no Sábado para estrear o interior ? Tecto de 2.500 às 16, vento de até 15km de NE, nuvenzinha a mostrar tudo, uma aterragem oficial como (quase) não existe em maior parte dos sítios onde os nuestros hermanos voam em Espanha… Estou muito pr’aí virado.
O que me dizem ?"
O Pedro Raimundo, que já reservou o meu lugar de pendura para a temporada, foi o primeiro a manifestar-se, logo seguido pelo Hugo e pelo Nuno. O Paulo Frade telefonou na sexta a tergiversar, que ele e o Vento iam acabar a formação do Zé Miguel para o AECB e que estavam disponíveis para nos puxarem. Ainda na fase da preparação, quando perguntei aos Mitras sobre recolha, moita carrasco ("requê!?", perguntou o Hugo...).
Sábado às 08:30 o PR em minha casa, passagem por casa do recolhão-mor JJ Cupertino às 09:00 a ala que estamos a horas para a Gardunha. O plano era aproveitar a melhor condição, às 16:00, e por isso não descolar antes das 14:00, pelo que tínhamos tempo.
Chegámos às 11:30, com vento de 15km de NE, cúmulos 100m acima da descolagem, a Estrela tapada até meio.
Montámos nas calmas e uma hora depois chegaram os Mitras com ambas as suas damas. O tempo e a condição continuavam a melhorar, o tecto a subir, bufos esporádicos de frente na rampa NO com dominante de NNE.
Às 14:30, com o tecto 500m acima da descolagem, preparei-me e depois de alguma hesitação na descolagem NE saí sem problema, logo a subir. Faço o primeiro 360 e vejo logo o esforçado do PR a descolar atrás de mim, como aliás tinha ameaçado antes. O Hugo e o Nuno saíram poucos minutos depois.
À primeira impressão de que se subia por todo o lado seguiu-se a constatação fundamentada de que só se subia numa termo-ladeirita na parede da descolagem - parecia o Salgado, comentei eu às tantas -, onde de vez em quando chegava uma térmica que apanhávamos e na qual subíamos 50 m em duas voltas para logo a abandonarmos por já termos derivado, baixo, para cima da descolagem.
Por ali andámos a explorar, umas vezes a subir e outras a descer, que os ciclos térmicos estavam muito definidos.
O segredo - que o era, na verdadeira acepção da palavra, para o PR - era ir em frente e apanhar o que houvesse por lá, para subirmos e derivarmos com espaço. Entretive-me a fazer isso durante uns largos minutos, acompanhado pelo Hugo que tem a característica engraçada (!) de rodar sempre em sentido contrário ao do(s) outro(s) voadore(s), qualquer que seja o sentido de rotação que eles adoptem. E digo-o com propriedade porque, conhecedor da minha dificuldade em rodar para a esquerda, ontem resolvi "treinar" esse exercício, pelo que rodei para os dois lados... Com o Hugo sempre ao contrário. Bem, quase sempre; suponho que às vezes se distraía e ficava algumas voltas a rodar no mesmo sentido que eu.
Ao fim de 45 minutos de sobe (pouco) e desce (bastante), conseguimos apanhar algo mais consistente e viemos derivando até à vertical da descolagem. Formava-se uma nuvem a O, pelo que fomos para lá, subimos aos 1800 e, mantendo a deriva e vendo que o PR e o NS não passavam da cepa torta, 100m acima da descolagem, combinámos ir para o AECB.
As nuvens estavam mais para O pelo que propús uma rota por O da barragem. O Hugo hesitou, voltou para trás e perdeu alguma altura. Mais tarde disse que estava baixo e ia aterrar perto da lagoa.
2km a O da barragem e já a 1000m de altitude apanhei uma boa, que me subiu aos 2000m e me garantiu a chegada ao AECB. Ia perguntando pelo Hugo, que não respondia.
Estava a chegar a 1500m a Castelo Branco, pelo que me dirigi à cidade para aumentar a distância, vendo a actividade no aeródromo, com a Sobrevoar em acção e a asa de escola a descolar, a fazer duas voltinhas e a aterrar. Mas perto de CB não parecia haver nada pelo que virei na direcção do AECB, com vento contra, para lá aterrar.
Mesmo antes de lá chegar e já aos 900m apanho uma térmica que me deriva de novo para cima da cidade, à vertical da qual cheguei com 2000m. Durante essa subida o Hugo tinha reaparecido, no cloudbase, e combinámos ir na direcção de Vila Velha de Ródão.
Mas com o Hugo é sempre a mesma questão: a gente combina e depois ele faz outra coisa. Qualquer... Vir ao lado, a ajudar ? Não, isso é que não: quando está visível, é 50m atrás e acima que ele se põe. Nas outras alturas nem está visível nem responde pelo rádio.
Enfim, fui fazendo o meu voo sozinho, escolhendo com cuidado, de entre as numerosas nuvens disponíveis na rota pretendida, aquelas que pareciam estar em fase mais propícia.
Cheguei a VVR com 1200 e fiquei por ali a ver, porque os quilómetros a seguir não têm boas aterragens, decidido a ir aterrar no "golo" de VVR se não subisse. O Hugo entretanto tinha declarado que ia lá aterrar.
Acabei por apanhar outra mesmo à vertical do Tejo e aos 1700 dirigi-me a Nisa para ficar por ali. Nessa direcção já não havia nuvens. Cheguei lá perto com 1000m e decidi ir gastá-los enquanto pudesse, já que tinha duas ou três aterragens possíveis nessa rota, mais à frente para SO. A 500m à vertical de um bom campo, já com o arnês aberto, apanho outra, consistente, e, sempre com um olho no campo onde tinha pensado aterrar e outro no campo onde poderia aterrar mais à frente se a térmica não desse, deixei-me subir até aos 1700m e, depois, ir durante mais um quarto de hora e 15 km, a gastar a altura até um buraquinho verde de erva no meio de campos e montes de oliveiras onde aterrei impecavelmente com a ajuda do paraquedas de frenagem.
Coordenadas e telefonema à recolha, que já estava em Nisa (viva o Flymaster Live, viva !), a comemoração que se impunha e, depois de algumas dificulades com o GPS do carro que o JJ Cup rapidamente ultrapassou com o seu programinha de geo-localização do telemóvel, a chegada da recolha na altura em que, já arrumada a asa, ainda faltava acabar de arrumar o arnês ou seja, completamente dentro do tempo recomendável.
Viemos logo embora, que aqueles dois não são de bujecas. Pois, nem tudo é perfeito...
Copy Paste it into your RSS reader
As expectativas eram moderadamente elevadas. Na quinta-feira tinha mandado uma mensagem perguntando "que tal uma ida à Gardunha no Sábado para estrear o interior ? Tecto de 2.500 às 16, vento de até 15km de NE, nuvenzinha a mostrar tudo, uma aterragem oficial como (quase) não existe em maior parte dos sítios onde os nuestros hermanos voam em Espanha… Estou muito pr’aí virado.
O que me dizem ?"
O Pedro Raimundo, que já reservou o meu lugar de pendura para a temporada, foi o primeiro a manifestar-se, logo seguido pelo Hugo e pelo Nuno. O Paulo Frade telefonou na sexta a tergiversar, que ele e o Vento iam acabar a formação do Zé Miguel para o AECB e que estavam disponíveis para nos puxarem. Ainda na fase da preparação, quando perguntei aos Mitras sobre recolha, moita carrasco ("requê!?", perguntou o Hugo...).
Sábado às 08:30 o PR em minha casa, passagem por casa do recolhão-mor JJ Cupertino às 09:00 a ala que estamos a horas para a Gardunha. O plano era aproveitar a melhor condição, às 16:00, e por isso não descolar antes das 14:00, pelo que tínhamos tempo.
Chegámos às 11:30, com vento de 15km de NE, cúmulos 100m acima da descolagem, a Estrela tapada até meio.
Montámos nas calmas e uma hora depois chegaram os Mitras com ambas as suas damas. O tempo e a condição continuavam a melhorar, o tecto a subir, bufos esporádicos de frente na rampa NO com dominante de NNE.
Às 14:30, com o tecto 500m acima da descolagem, preparei-me e depois de alguma hesitação na descolagem NE saí sem problema, logo a subir. Faço o primeiro 360 e vejo logo o esforçado do PR a descolar atrás de mim, como aliás tinha ameaçado antes. O Hugo e o Nuno saíram poucos minutos depois.
À primeira impressão de que se subia por todo o lado seguiu-se a constatação fundamentada de que só se subia numa termo-ladeirita na parede da descolagem - parecia o Salgado, comentei eu às tantas -, onde de vez em quando chegava uma térmica que apanhávamos e na qual subíamos 50 m em duas voltas para logo a abandonarmos por já termos derivado, baixo, para cima da descolagem.
Por ali andámos a explorar, umas vezes a subir e outras a descer, que os ciclos térmicos estavam muito definidos.
O segredo - que o era, na verdadeira acepção da palavra, para o PR - era ir em frente e apanhar o que houvesse por lá, para subirmos e derivarmos com espaço. Entretive-me a fazer isso durante uns largos minutos, acompanhado pelo Hugo que tem a característica engraçada (!) de rodar sempre em sentido contrário ao do(s) outro(s) voadore(s), qualquer que seja o sentido de rotação que eles adoptem. E digo-o com propriedade porque, conhecedor da minha dificuldade em rodar para a esquerda, ontem resolvi "treinar" esse exercício, pelo que rodei para os dois lados... Com o Hugo sempre ao contrário. Bem, quase sempre; suponho que às vezes se distraía e ficava algumas voltas a rodar no mesmo sentido que eu.
Ao fim de 45 minutos de sobe (pouco) e desce (bastante), conseguimos apanhar algo mais consistente e viemos derivando até à vertical da descolagem. Formava-se uma nuvem a O, pelo que fomos para lá, subimos aos 1800 e, mantendo a deriva e vendo que o PR e o NS não passavam da cepa torta, 100m acima da descolagem, combinámos ir para o AECB.
As nuvens estavam mais para O pelo que propús uma rota por O da barragem. O Hugo hesitou, voltou para trás e perdeu alguma altura. Mais tarde disse que estava baixo e ia aterrar perto da lagoa.
2km a O da barragem e já a 1000m de altitude apanhei uma boa, que me subiu aos 2000m e me garantiu a chegada ao AECB. Ia perguntando pelo Hugo, que não respondia.
Estava a chegar a 1500m a Castelo Branco, pelo que me dirigi à cidade para aumentar a distância, vendo a actividade no aeródromo, com a Sobrevoar em acção e a asa de escola a descolar, a fazer duas voltinhas e a aterrar. Mas perto de CB não parecia haver nada pelo que virei na direcção do AECB, com vento contra, para lá aterrar.
Mesmo antes de lá chegar e já aos 900m apanho uma térmica que me deriva de novo para cima da cidade, à vertical da qual cheguei com 2000m. Durante essa subida o Hugo tinha reaparecido, no cloudbase, e combinámos ir na direcção de Vila Velha de Ródão.
Mas com o Hugo é sempre a mesma questão: a gente combina e depois ele faz outra coisa. Qualquer... Vir ao lado, a ajudar ? Não, isso é que não: quando está visível, é 50m atrás e acima que ele se põe. Nas outras alturas nem está visível nem responde pelo rádio.
Enfim, fui fazendo o meu voo sozinho, escolhendo com cuidado, de entre as numerosas nuvens disponíveis na rota pretendida, aquelas que pareciam estar em fase mais propícia.
Cheguei a VVR com 1200 e fiquei por ali a ver, porque os quilómetros a seguir não têm boas aterragens, decidido a ir aterrar no "golo" de VVR se não subisse. O Hugo entretanto tinha declarado que ia lá aterrar.
Acabei por apanhar outra mesmo à vertical do Tejo e aos 1700 dirigi-me a Nisa para ficar por ali. Nessa direcção já não havia nuvens. Cheguei lá perto com 1000m e decidi ir gastá-los enquanto pudesse, já que tinha duas ou três aterragens possíveis nessa rota, mais à frente para SO. A 500m à vertical de um bom campo, já com o arnês aberto, apanho outra, consistente, e, sempre com um olho no campo onde tinha pensado aterrar e outro no campo onde poderia aterrar mais à frente se a térmica não desse, deixei-me subir até aos 1700m e, depois, ir durante mais um quarto de hora e 15 km, a gastar a altura até um buraquinho verde de erva no meio de campos e montes de oliveiras onde aterrei impecavelmente com a ajuda do paraquedas de frenagem.
Coordenadas e telefonema à recolha, que já estava em Nisa (viva o Flymaster Live, viva !), a comemoração que se impunha e, depois de algumas dificulades com o GPS do carro que o JJ Cup rapidamente ultrapassou com o seu programinha de geo-localização do telemóvel, a chegada da recolha na altura em que, já arrumada a asa, ainda faltava acabar de arrumar o arnês ou seja, completamente dentro do tempo recomendável.
Viemos logo embora, que aqueles dois não são de bujecas. Pois, nem tudo é perfeito...